domingo, 18 de dezembro de 2011

Estrofe única


É preciso de um bocado de dentes
Escancarados, raivosos
Para rir das desgraças do mundo
Para roer as mazelas da alma
E comer (com calma) os pedaços de vida

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ele

Ele era todo cheio de si. Cheio de tudo, cheio de medos. Ele era o melhor em quase tudo e o pior também. Era diferente, e disso ele sabia. Ele estava cheio de ser o melhor e farto de si, farto de medos, farto de tudo.

Ele tinha sucesso no trabalho e azar no amor. E se tivesse amor, tinha mais trabalho, e então, menos amor. Era o líder do amor pagão e líder do trabalho sempre. Sempre no dissabor salgado da paixão descrente.

Ele via coisas além e ensinava coisas que nem aprendera. É que ensinar o outro é ensinar a si próprio sem o peso da culpa em não saber. O próximo apreendia e aprendia. Ele se prendia.

Ele sentia o futuro. Mudava o presente e se aproximava mais do que esperava se afastar. Afastava-se também da sorte, mantinha-se forte e se aproximava da morte.

Ele um dia se foi. Foi ele, foi tudo e foi si. Foi líder da vida, que o ensinou e aprendeu com ele a ensinar o outro. Ele se afastou da vida e conheceu a lua. Dizem que ele vive ainda nos olhos de quem sabe para onde olhar.

domingo, 30 de outubro de 2011

2 Linhas

[ABRE ASPAS]

EU, QUE NUNCA DEI NADA ALÉM DO QUE RECEBI, NÃO PRETENDO MUDAR EM NADA. GOSTO DESSE EQUILÍBRIO QUE A VIDA PROPÕE, COMO QUEM FAZ DA PAIXÃO UMA EQUAÇÃO IDEAL, E DE NÓS SEUS NÚMEROS PERFEITOS.
[FECHA ASPAS]

sábado, 22 de outubro de 2011

Do ver ao vento

          Os dias têm estado calmos, escuros e melancólicos. Eles têm combinado comigo em tudo. Acho que toda vez que o tempo muda, é uma tentativa dos deuses em mostrar para as pessoas meu estado de espírito. As tempestades que deveriam acontecer no céu, acontecem em mim e eu tenho receio de que a chuva possa me transbordar. Dizem que as chuvas de outubro são violentas e perigosas.
          Logo eu, que nunca tive problemas em ser tempestade, ultimamente tenho sido brisa de praia e não quero deixar de ser. Quero ser vento para sempre. Vento leve e constante, que no rosto faz gelar com carinho e que nos cabelos não passa de uma brincadeira gentil. Acho que vento é felicidade. Não me espanta que ele não permita ser visto, é a estratégia da felicidade. A gente só se dá conta dela quando já passou.
         Nessa brincadeira de ser vento, eu estou ventando sem muito destino.  De lá para cá, torcendo vestidos e levantando saias, jornais e tudo que estiver pela frente. Vou enchendo bolas de festas infantis e subindo junto com elas.

sábado, 27 de agosto de 2011

Cutão


Fui fruta.
Pronto pra ser saboreado.
Fui livro.
Desejando toque.
Fui travesseiro.
Seu rosto em mim.
Fui relógio.
Esperei.
Fui Romeu.
Morrer de amor.
Fui sapato.
Nos seus pés.
Fui liquidificador.
Rápido, turbulento.

Sou brisa do mar.
Serenidade.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Título

Ultimamente tenho vivido apenas em primeira pessoa.
Só os verbos de ação me atraem agora.
Esqueci o romantismo e os eufemismos da vida.
E só tenho tempo para o discurso direto.
Em mim, parece não haver mais espaço para metáforas.
Me casei de meios termos, sujeitos oculttos, subordinação, substantivos abstratos.
Quero o presente , o pretérito é mais que perfeito no passado...
VIVER , dissílabo simples nesse mundo de anacolutos.
Tão simples, não?
Reticências.

domingo, 10 de abril de 2011

As palavras

Estão aqui, estão todas aqui
Estão?
Tão Fervilhantes, saltitando em mim
São células, tecidos, órgãos, sistemas
O que será que são?
Elas são todas eu, eu sou todo elas
Devora-me ou decifra-me?
De tanto que sou, me perco
De tudo que posso, esqueço
Posso ser tudo diante de tão pouco
E o mundo, esse lugar meu, parece tão pequeno
Culpa das maliciosas que me devoram
Que me confundem
O que será que são?

segunda-feira, 28 de março de 2011

2011

Sei lá ...só sei que está tudo errado.
ERRADO.
Você joga fora seu lixo.
Ele vira comida para alguém.
Você tem seu dinheiro.
Tinha. Está no bolso de outro.
E respeito e amor , não contam?
Respeito? Isso existiu um dia? 
Devo estar sonhando...
Você fala estranho senhor... Quantas palavras antigas.
...

Sei lá ...só sei que está tudo errado.
ERRADO.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Trevo


   O problema é que as pessoas amam demais. Tem gente vendendo semente de amor em cada esquina que eu passo. Amor agora tem época e data para colher. Todo mundo ama tudo e qualquer coisa. Eta mania besta de banalizar sentimentos... Eu gosto daquele amor trevo de quatro folhas. Aquele raro. Aquele amor dos búzios e bola de cristal. Aquele para sempre que vai até os cabelos brancos.
   Tenho necessidade de amar verdadeiramente e todo dia rego com ternura as raízes do trevo-amor.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Trio

Caraminholando o mundo
Desfazendo o feito
O não ser humano perfeito
Fracionando um segundo

Reiventando o sonhar
Onde fada faleceu
Onde príncipe já morreu
E amor vi viajar...

Aqui só tem brancura
Que embaça, entristece
O orvalho permanece
Sem brilho, sem ternura.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Turbilhão

Hoje o dia foi incômodo. Eu gritei estando no mais perfeito silêncio. E mesmo sabendo que o motivo do meu inquietamento não é nada que vá mudar minha vida , eu gritei.As fagulhas do meu desassossego não chegaram a queimar ninguém , ninguém que eu saiba. Eu quis bater e não tive força , quis chorar e nem olhos tinha. Ao mesmo tempo que esse turbilhão ia me consumindo , eu não fiz [e nem quis fazer] nada para que minha situação se tornasse mais agradável. Eu nem sei se limpei ou sujei minha consciência com as últimas decisões. Nem sei bem se decidi algo. Parece mais que as decisões é que me decidiram...Vai lá me entender...