A
verdade é dura e já alarmante: agora, espera-se que o professor seja um
showman. Ele deve cantar, dançar, interpretar, coreografar o hit do
momento e fazer coisas afins. Tudo isso com o intuito de atrair os
olhares dos alunos, para pôr em prática uma didática circense. O que me
preocupa nisso tudo é o peso e a cobrança que recaem sobre as costas de
um profissional que deve ser capaz de chegar a todos
os alunos, desde o cdf até o rebelde sem causa, com talento e maestria.
A questão é mais profunda e o que parece escapar a essa cobrança
exagerada é a consciência crítica de que o mestre não é milagreiro,
muito menos popstar. Não se pode esperar dele feitos que têm muito mais a
ver com talentos de um programa de tv. Não me leve a mal, não estou
defendendo uma ditadura escolar, nem um saudosismo tradicional. Estou
falando de inconsistência conceitual. Não esperamos de um médico que ele
seja capaz de convencer seu paciente de que ele deve tormar remédio
para se curar. Por que esperamos do professor que ele seja capaz de
transformar bigorna em obra de arte a qualquer custo? Por que o
desinteresse escolar é sempre associado ao desempenho do professor? Por
que sempre esperamos que o professor se reinvente, como se ele pudesse,
realmente, tomar em suas mãos o destino de todos seu alunos? Enquanto o
professor for compreendido como redentor do país e enquanto a sociedade
esperar que ele possa mudar o mundo por si só, alunos estarão em suas
carteiras, esperando que o mestre de cerimônia os convença de que merece
atenção. O futuro pode ser amargo e a educação do Brasil não precisa de
professores-mágicos, precisa rever o papel do aluno e do professor em
sala de aula, pois não quero carregar o fardo de ser a única salvação
para o cenário caótico do país.