domingo, 28 de setembro de 2014

Maré


Bem que a gente
Quando Mar
Pudesse ir...
E rabiscar
Tanto a pedra do Arpoador
Como as (tuas) pernas, caminhar

sábado, 27 de setembro de 2014

Quase um romance

Pacto de coexistência pacífica entre as noites de sábado e o coração dos apaixonados:
 
          Nenhuma ansiedade deve se mostrar grande suficiente a ponto de comprometer o bom andamento das horas. Toda saudade tem de ser ponderada e regada a vinho barato - sem extremos, não é de bom tom se embriagar, exceto em ocasiões verdadeiramente oportunas. À Lua, dois minutos de olhares é o limite aceitável. Não se tolera suspiros ou coisas semelhantes; todo o céu deve ser tido como inimigo absoluto. Toda lembrança deve ser visitada com cautela, elas ludibriam o corpo, enganam a mente, serpenteiam desejos que vão da tampa da cabeça ao torso da espinha. As declarações devem apresentar certo grau de racionalidade, embora o vinho possa acentuar aqui e acolá alguma ponta de descontrole carnal ou desequilíbrio emocional. (A ansiedade pode ser disfarçada com simpatia - ainda estamos em busca de formas mais apropriadas de substituições) As ligações devem acontecer entre 19h e 21h. Depois disso, chega-se à zona vermelha de manutenção do pacto, e todo deslize pode ser determinante para seu rompimento. Na zona vermelha, o acesso a fotos também se torna restrito, devendo se limitar a duas ou três  - a depender da intensidade das sensações.
 
Na dúvida sobre alguns dos itens apontados, dormir é a opção mais acertada.

AMOR (ou o que eu penso dele)

"O amor sempre é amoroso; mas umas vezes é amoroso e unitivo, outras vezes amoroso e forte. Enquanto amoroso e unitivo, juntas extremidades mais distantes: enquanto amoroso e forte, divide os extremos mais unidos."
               Ele - o amor -, como unitivo, não pode ser outra coisa senão a própria união que lhe dá nome: todo coesão, vai na contramão do aos do mundo e expande a existência da vida em um corpo outro. Como forte, é a fragmentação da unidade que ele mesmo construiu; vai se alimentando de si mesmo a partir da matéria nutritiva que pariu. Um se traduz e se revela pela compreensão do outro. É o oito deitado, a Lemniscata de Bernoulli: sem possibilidade  de quebra, fazem voltas loucas e tentam, sem sucesso, escapar de uma condição natural, infinita e, por isso mesmo, imutável, cuja solução é tão somente a experiência, o (des) encontro, a fusão, a transa, o pacto de sangue, o elo. Vivem, assim, na esperança de quem, algum dia, terão sua identidade única, sem saber que, na verdade, um, sem o outro, é apenas a experiência da inutilidade.

Nossa absolvição

               Toda segunda-feira traz consigo uma verdade difusa. Toda manhã de segunda-feira tem um pouco de mistério e de segredo, de começo e de novidade, de preguiça e de renascimento. A segunda-feira é a maneira inevitável que encontramos para lidar com o amargo de uma vida que quase parece se repetir. Todas as segundas são já o confronto inescapável com o por vir e, por conta dessa sua natureza devoradora, ficamos em um estado de moleza proposital, em uma lentidão masoquista prazerosa.... Todas as desgraças que acontecem na segunda-feira são culpa da própria segunda-feira, e isso traz certa segurança de que estamos imunizados dos nossos erros por conta de uma energia que está acima de nós e que tudo pode. Somos totalmente inocentes numa segunda-feira. Ela é o dia autoexplicativo, intransitivo, impossível de não ser; ela é o dia em que os que se amam contam nos dedos, em que o café tem mais gosto de café, em que toda verdade é mais dolorosa. A segunda-feira, a prova-dos-nove de nossas responsabilidades, é um gole de pinga no desjejum da semana