Viver
não é experimentar o óbvio, já sabemos. E não é à toa que estamos sempre na
espera pelos encontros, pelas sinuosidades, pelas curvas acentuadas, pelas
derrapadas, pelos inesperados, pelas alterações cardíacas, pelas coisas
impalavráveis, pelas coisas impronunciáveis, pelo erro, pela fuga, pelo
desconserto, pelas deturpações, pela secura na boca, pelo tremelicar das
pernas, pelo borboletear na barriga, pela pulsação do peito, pela surpresa,
pelo xeque-mate, pelos olhares oblíquos, pela sudorese das mãos, pelo último
gole de pinga, pela última música da noite, pelo porre, pelo estrago, pela
alteração de pressão, pela alteração de glicose, pela alteração dos hormônios,
pelo dilatar das pupilas, pelo desequilíbrio, pelo desalinho, pelo triturar,
pelo desestruturar.
Estamos
em busca, todos os dias, por aquilo que não é da ordem do dia. Sair do eixo
natural de tranquilidade - seja ela emocional ou de qualquer outra natureza - é
prazeroso e perigoso. Toda forma de emoção é um perigo delicioso.