Vai ver que é justamente no
autoboicote de suas ações que o homem consegue encontrar aquilo que o faz viver
diferentemente de um peso de papel, por exemplo. A plenitude só existe porque o esvaziamento
também existe. Essa coexistência
necessária, essa angústia latente, esse desejo sempre frequente faz com que
tenhamos a motivação necessária para
acordar e ir dormir todos os dias. Não é possível imaginar – pelo menos eu não
consigo – um indivíduo que seja pleno e tenha encontrado ainda motivos para
viver. Ora, se viver é, por excelência, a busca por uma plenitude sempre
inalcançável, encontrá-la determina o fim da vida ainda em vida. É morrer em
vida, e em vida plena. Talvez expliquemos com isso a necessidade que temos de
sofrer. Alguns com mais necessidades que
outros. [ Chamamos esses de paranoicos.] O fato é que , em maior ou menor grau,
existe certo prazer no sofrimento, cujas raízes se encontram também nessa
sensação de maratona que nunca acaba. E não adianta fugir disso. Não adianta
tentar fazer o caminho inverso ou impedir o autoboicote. Até nas posturas mais
alternativas e despreocupadas existe o princípio da espera e recompensa. Sem
ele, viver seria apenas uma questão de experimentar o óbvio. Eu ainda não topei
com ninguém que tenha conseguido tal feito. Ainda bem...
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