Todo texto é um milagre; todo milagre é uma exceção. Todo texto é uma
estrela-novidade, uma bandeira fincada no oceano. Toda estrela é o
resquício de algo que já existiu e que ainda brilha aos nossos olhos
atrasados. De tempos em tempos, temos de incendiar os textos que
fazemos. Queimá-los. Purificar as letras com fogo que devora. Lançar
sobre a superfície deles essa fome de fogo que come e que só deixa pó.
Queimá-los não é o fim deles, é o começo de uma
nova etapa. Queima-se o texto, mas as realidades instauradas por ele
vão parar nas vias respiratórias, no pulmão e de lá tomam rumo para as
vias sanguíneas, para a raiz do osso, para a retina, para a gengiva,
para as unhas, para a sola do pé. Quando queimamos os textos e
eliminamos sua manifestação física, colocamos à prova o quanto dele
existe para além do que está posto e testamos a nós mesmos, considerando
que a mensagem que nele reside pode passar a existir somente em
espíritos preparados, que sabem para onde olhar. Queimar os textos e
eternizar a mensagem ou manter os textos e efemerizá-la? Não sou dono do
que escrevo, definitivamente, mas escolho parte do meu destino e
posso me rebelar ou me calar frente às palavras que saem de mim. É dia
de rebelião.
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