terça-feira, 11 de novembro de 2014

Manifesto Incendiário

                  Todo texto é um milagre; todo milagre é uma exceção. Todo texto é uma estrela-novidade, uma bandeira fincada no oceano. Toda estrela é o resquício de algo que já existiu e que ainda brilha aos nossos olhos atrasados. De tempos em tempos, temos de incendiar os textos que fazemos. Queimá-los. Purificar as letras com fogo que devora. Lançar sobre a superfície deles essa fome de fogo que come e que só deixa pó. Queimá-los não é o fim deles, é o começo de uma nova etapa. Queima-se o texto, mas as realidades instauradas por ele vão parar nas vias respiratórias, no pulmão e de lá tomam rumo para as vias sanguíneas, para a raiz do osso, para a retina, para a gengiva, para as unhas, para a sola do pé. Quando queimamos os textos e eliminamos sua manifestação física, colocamos à prova o quanto dele existe para além do que está posto e testamos a nós mesmos, considerando que a mensagem que nele reside pode passar a existir somente em espíritos preparados, que sabem para onde olhar. Queimar os textos e eternizar a mensagem ou manter os textos e efemerizá-la? Não sou dono do que escrevo, definitivamente, mas escolho parte do meu destino e posso me rebelar ou me calar frente às palavras que saem de mim. É dia de rebelião.

Nenhum comentário:

Postar um comentário