Eu não costumo ter medo daquilo que conheço. A natureza das coisas que
se relevam salta aos nossos olhos e, por isso mesmo, poucas vezes deixa
em mim qualquer vestígio de suspeita ou engano. O que me afeta é o
poder oculto das coisas inapreensíveis, contra as quais nada posso e
sobre as quais pouco ou nada sei. Uma dia de chuva, por exemplo, não tem
mistério nem segredos. Chover é, por excelência, uma ação que se
instaura na ordem do mostrar-se, dentro daquilo que concebemos como
confissão. Por isso, não há o que temer, porque ela é a própria
explicitude materializada e gotejante que se mostra inteira e
completamente no limite curto entre a barriga da nuvem e o chão; a chuva
é verdade. Ao contrário disso, os dias nublados sempre trazem algo de
misterioso, denunciando gritos mudos que sopram devagar em nossos
ouvidos. Eles são aquilo que está por vir, aquilo que ninguém sabe,
embora todos saibamos mais ou menos os contornos. Essa imprecisão me
assusta - talvez pela mania natural de dominador do mundo, talvez por
fatores outros ainda desconhecidos e igualmente herméticos. Dias
nublados são homens amordaçados e cheios de expressões.