terça-feira, 7 de abril de 2015

Segredos mudos

            Eu não costumo ter medo daquilo que conheço. A natureza das coisas que se relevam salta aos nossos olhos e, por isso mesmo, poucas vezes deixa em mim qualquer vestígio de suspeita ou engano. O que me afeta é o poder oculto das coisas inapreensíveis, contra as quais nada posso e sobre as quais pouco ou nada sei. Uma dia de chuva, por exemplo, não tem mistério nem segredos. Chover é, por excelência, uma ação que se instaura na ordem do mostrar-se, dentro daquilo que concebemos como confissão. Por isso, não há o que temer, porque ela é a própria explicitude materializada e gotejante que se mostra inteira e completamente no limite curto entre a barriga da nuvem e o chão; a chuva é verdade. Ao contrário disso, os dias nublados sempre trazem algo de misterioso, denunciando gritos mudos que sopram devagar em nossos ouvidos. Eles são aquilo que está por vir, aquilo que ninguém sabe, embora todos saibamos mais ou menos os contornos. Essa imprecisão me assusta - talvez pela mania natural de dominador do mundo, talvez por fatores outros ainda desconhecidos e igualmente herméticos. Dias nublados são homens amordaçados e cheios de expressões.

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