sexta-feira, 29 de maio de 2015

Trivialidades

               Perguntou se aquela curvatura da boca era sinal de dor ou de alegria comedida. Respondeu que era serenidade enviesada em um mastro fino e flexível, que se contorcia conforme a brutalidade dos dias ventosos. Perguntou se aquele silêncio que saía da mesma boca curvada era indicativo de complacência ou rebelião. Rebelião calada, respondeu sem nenhum vestígio de reticências. Perguntou se o mundo seria então só silêncio e paz velada. Respondeu que uma boca falante e cheia de dentes, às vezes, precisa repousar os lábios. Perguntou se a vida era aquilo mesmo, aquele latejar agudo e sorrateiro no peito. Respondeu que parasse de confundir o coração com aquela coisa maior cujo nome nenhum dois sabiam exatamente. Apagou o cigarro enquanto o outro apagava o abajur. Dormiram.

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