Perguntou se aquela curvatura da boca era sinal de dor ou de alegria
comedida. Respondeu que era serenidade enviesada em um mastro fino e
flexível, que se contorcia conforme a brutalidade dos dias ventosos.
Perguntou se aquele silêncio que saía da mesma boca curvada era
indicativo de complacência ou rebelião. Rebelião calada, respondeu sem
nenhum vestígio de reticências. Perguntou se o mundo seria então só
silêncio e paz velada. Respondeu que uma boca falante e cheia de dentes,
às vezes, precisa repousar os lábios. Perguntou se a vida era aquilo
mesmo, aquele latejar agudo e sorrateiro no peito. Respondeu que parasse
de confundir o coração com aquela coisa maior cujo nome nenhum dois
sabiam exatamente. Apagou o cigarro enquanto o outro apagava o abajur.
Dormiram.
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