quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Água de torneira

        Poucas coisas na vida são tão fugidias e únicas como água de torneira. Isso. Água de torneira. Repare: uma vez a torneira aberta, não há mais escapatória. Ela corre, deslizando em seu prórpio corpo e vai. Não há outro destino para a água de torneira que não seja a ida - palavra cheia de mistério que liberta para lugar nenhum. Não quero falar das que lavam calçadas ou caem do céu, porque essas têm destino e finalidade. Elas têm período de validade e utilidade prática. A minha angústia é a água de torneira porque sobre essa ninguém sabe o que falar, ou para quê. Ela só existe enquanto água da saída da torneira até o início do ralo. Ela é aquilo e somente aquilo. O que será depois do ralo e só incerteza. Há quem diga que ela é modificada e volta para a mesma torneira de onde saiu. E não seria essa água outra? Se ela é modificada, admite-se que já não se trata da mesma. Então não há 'volta'; há um novo início para uma nova água. Água de torneira existe tão pouco que nem toma consciência de sua própria existência. Também nós não temos consciência da nossa, mas existimos tanto...

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