segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Tempos oblíquos

                        Não é novidade nenhuma que a desigualdade social se reflete nas relações interpessoais e, nesse sentido, na própria dinâmica organizacional da população. Também não é novidade que vivemos em uma país violento, em que estamos mais presos do que os presos. O que parece apresentar certo tom de ineditismo é o discurso oblíquo e em grande parte contraditório daqueles que postulam com veemência a legitimidade de atos que procuram exaltar uma suposta justiça feita. E esse discurso torpe e leviano demonstra não só um pensamento que é, por si só, retrógrado, mas também evidencia a própria condição medíocre em que nos colocamos quando, munidos de uma fajuta capacidade de fazer o certo, prendemos pescoços em postes. O que se prende eu já sei, está nos noticiários todos os dias. E o que se aprende? Ou melhor, e o que se apreende em relação a tudo isso? E não me diga que sou hipócrita e que, se meu Iphone tivesse sido roubado, eu também quereria espancar um ser – ainda humano. Somos assaltados todos os dias, por instâncias que mal supõe nossa vã filosofia. Não precisamos de mais umbigocentrismos. Tampouco precisamos dessa justiça que só se faz presente no preto, no pobre, no favelado.  Você não precisa adotar um bandido para mostrar que faz algo pela sociedade e eu não preciso adotar essa justiça para mostrar que me importo.

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