segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Sempre tem gente para chamar de nós




       Ontem, quando perguntado por uma amiga sobre o que fazer diante da sensação de estar perdido no mundo, respondi, categoricamente, como quem esperou um dia inteiro por aquele momento: “Acho que isso é um bichinho errado, que só entra na nossa cabeça quando perdemos nosso equilíbrio próprio.” Não sei se aquilo fez algum sentido para ela, mas, para mim, pareceu um grande punhado de palavras combinadas que não diziam por mim, só diziam. Foi como ser dotado de um conhecimento que sempre vou buscar na opinião alheia, quando, na verdade, está aqui, comigo, o tempo todo. Com isso, foi inevitável não me perguntar quantas outras coisas eu sei, quantas outras palavras eu tenho, quantas outras saídas eu encontro para os outros e fecho para mim. Somos sábios de dentro pra fora e apagamos as luzes quando nos voltamos para dentro.  Ela se satisfez – ou parece que – e foi dormir, mas eu não dormi. Eu fiquei. E as palavras que eu mesmo proferi com propriedade de quem passou por experiências muitas ficaram dançando descompassadas, procurando sentido justamente em quem as produziu: eu. Talvez seja o caso de achar que não somos donos dos conhecimentos que produzimos ou, ainda, que tudo o que pensamos só pode se revelar no outro, nunca em nós mesmos. Pode ser que daí decorra a função prática da amizade e do amor: a necessidade de se construir a partir do outro e do outro fazer o mesmo em nós. Não é à toa que a  sensação de se sentir perdido no mundo - a mesma sensação que ela, você e eu sentimos - está intimamente ligada à perda de uma amizade ou de um relacionamento. A grande questão nisso tudo é o que fica em nós depois das perdas – ou seria o que foi com elas?

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